Vergonha – por Milton Bigucci

Vergonha
por Milton Bigucci – 30 de novembro de 2008

            Trabalho com construção civil há 47 anos e, com certeza, continuo aprendendo. Cada dia descubro um dado novo e, às vezes, difícil de explicar.

Agora, por exemplo, vi alguns dados divulgados pela IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) baseado em informações do IBGE, mostrando que a população favelada brasileira aumentou 42% nos últimos 15 anos, de 1992 a 2007, passando de 4,914 milhões de pessoas morando em favelas para 6,979 milhões. A maioria desse aumento está concentrada nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Só na capital de São Paulo há 1.565 favelas, segundo a prefeitura.

Há ainda, 54,6 milhões de pessoas no país vivendo em condições inadequadas, ou seja, mais de um terço da população brasileira urbana que é de 158,2 milhões, com domicilio superlotado (às vezes, em um cômodo morando 6 ou mais pessoas), casas com banheiro coletivo, serviço de água inadequada causadora de doenças, serviço de esgoto precário ou sem esgoto (sem esgoto são mais de 40% da população urbana) e casas com paredes e teto sem durabilidade (madeira, papelão, etc).

Parece que isso tudo não é verdade no Brasil de hoje. Não vemos ou não queremos ver.

De outro lado, a construção vai de vento em popa. Construção civil para a classe alta ou classe média não para de crescer. O déficit habitacional nessa área é menos de 10% do total, que está em torno de 8 milhões de moradias.

Ora, se a população favelada aumentou, algo está errado. É preciso viabilizar um plano macro de combate a essa miséria. É preciso que os governos apliquem em habitação popular, deem subsídios para sanar esses déficits e ver se nos próximos 15 anos temos uma reversão de tendência, com menos pessoas morando em favelas. No mundo é assim, sem subsídio palpável, não se constroem habitações populares.

É preciso estudar e implementar, urgentemente, um plano entre os governos e a iniciativa privada para sanar essa aberração que entristece qualquer cidadão que se preze.

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC) com apoio dos Secovi’s e dos Sinduscons apresentou em 2008 um plano ao Presidente da República para usar o FGTS para esse objetivo e em 18 anos sanar o problema.

Sou avesso a assistencialismo. Sempre fui. Vamos usar o FGTS com juros baixos e algum recurso a fundo perdido, porém o cidadão devendo pagar um pouco mensalmente para ter a sua casa.

Os “gatos” de eletricidade existentes nas favelas é a maior prova que o cidadão deveria pagar, o mínimo que seja os seus gastos, para aprender a economizar e não desperdiçar. Todos têm luz e não pagam. Vejam como as favelas são iluminadas. Há lugares acesos até de dia. Não é dando que se educa. É ensinando e fazendo o “bolso” sentir, o mínimo que seja.

Habitação digna e decente significa saúde, mais educação, menos violência, mais felicidade e mais trabalho.

Mãos à obra governantes e iniciativa privada.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *