De volta as origens – por Milton Bigucci

De volta as origens
por Milton Bigucci – 28 de outubro de 2010

Um domingo desses pela manhã, ao fazer uma caminhada de rotina, fui ao bairro do Alto do Ipiranga, onde me criei e passei minha juventude. Lá passei mais de 20 anos de minha vida, há mais de 40 anos, e qual não foi a minha surpresa pelo que vi. A Rua Guaperoba, no Bairro Saúde, está praticamente igual, apenas asfaltada. Casas pequenas e mal acabadas com pouca pintura, a que era nossa, a térrea nº 208 (hoje nº 118), vendida à Luzia (ex-construtora Itapuã) está bonita, um sobradão bem cuidado. Mas o que mais me impressionou foi não conhecer ninguém na região toda e ninguém também me conhecer. Passei incólume. Pessoas, a maioria vinda do Nordeste, diferentes daquela época em que a maioria era vinda do Interior de São Paulo. Fui a uma feira na rua debaixo. Quase só barracas de frutas e bugigangas. As pessoas, nenhuma conhecida. Nenhuma mesmo. Fiquei triste e ao mesmo tempo surpreso.

Não vi os meus três amigos de infância e adolescência, o José Ruiz (morreu), o Sílvio (mora na Lapa) e o Bunim (hoje sr. Rufato, mora em São Bernardo e trabalha comigo). Não vi o senhor Armando, a dona Maria, a Neidinha e o Edélcio, nossos vizinhos (parece que moram na Praia Grande-SP) e o Souza (que foi chefe na Casa Freire meu segundo emprego). Não vi o Betinho que tocava violão em conjunto musical nos bailinhos (morreu), nem o Brasil Vita, eterno vereador de São Paulo que lá vinha pedir voto. A casa do senhor Camacho e da dona Antônia, avós da Sueli, está lá, igualzinha, obviamente sem eles. A “venda” (empório) do Pedro sumiu, a dona Mariquinha também. Com a sua carroça, o vendedor de leite em garrafa de vidro, também. O senhor Júlio, sua esposa dona Angelina, minha madrinha de crisma, e seu filho Manoelzinho, não sei onde estão.

A Rua Vergueiro era um areião, sem asfalto. A padaria da esquina está lacrada com bolas de concreto nas portas. A barbearia do Alemão, meu primeiro barbeiro, é uma lojinha de bugigangas, o campo do Grêmio Esportivo Centenário, onde joguei futebol durante uns 12 anos e fui seu presidente, é uma Fatec (Faculdade de Tecnologia) do Estado de São Paulo. O que mais me chamou a atenção foi uma casa da Rua Vergueiro, 7693, onde foi o meu primeiro emprego (eu tinha 9 anos) que consistia em limpar o consultório de uma jovem dentista. Após um mês de trabalho, ela mudou-se à noite, sem pagar o aluguel ou me pagar. Lá se foi o meu primeiro salário da vida. Triste experiência.

Lembrei dos meus pais, Roberto (carpinteiro) e Trindad (do lar) falecidos e da minha irmã, Célia, graças a Deus, bem. Pobres, porém com muita força moral. Sou eternamente grato a eles. Meu pai lutava com baixo salário para manter-nos. Fez o forro da nossa casa própria com madeira de pinho de caixas de máquinas, que caíram de um caminhão, no antigo Tanque da Pólvora. Era a luta pela sobrevivência. A minha escola primária era o G.E Alcântara Machado na Av. do Cursino, 388 (2km longe). Ia a pé, logicamente.

O mundo dá tanta volta, as amizades mudam e tudo se transforma tão celeremente que não nos damos conta. Não podemos, no entanto, nos esquecer das nossas vidas. Os moradores atuais não sabem nem do que estou falando. É compreensível. Têm suas vidas. Nunca me conheceram.

Mas o passeio valeu à pena.

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