Quem paga a conta é o comprador do apartamento
por Milton Bigucci – 23 de junho de 2015
Toda vez que as mudanças de lei de zoneamento ou uso do solo nas cidades reduzem a capacidade construtiva dos terrenos há um encarecimento de preço dos imóveis a serem construídos. E quem vai pagar a conta é o comprador do apartamento.
Vários municípios estão estudando e fazendo as suas mudanças de lei e a impressão que passam é que reduzindo o potencial construtivo de cada terreno estão penalizando as construtoras, quando na verdade estão encarecendo os preços dos imóveis para a população. Aumentam a qualidade de vida, mas encarecem o produto final, tornando-o mais distante do comprador.
Quando se aumenta o potencial construtivo ao longo dos corredores de ônibus, monotrilhos ou metrôs está se incentivando a construção nesses terrenos atendidos por transporte coletivo, mesmo que por vezes precário. As prefeituras cobram taxas desse aumento de potencial construtivo das construtoras, as quais repassam para os compradores. É a canalização de recursos do adquirente final para o poder público.
Lembro, há décadas, quando os índices construtivos em algumas cidades chegavam a seis vezes a área do terreno e os preços dos imóveis eram acessíveis ao trabalhador braçal da indústria. Hoje, quanto mais as novas leis diminuem esses índices, mais caro fica o imóvel e mais distante ele fica do trabalhador. Há casos que esses índices chegam a apenas uma vez a área do terreno.
A falsa impressão de que as prefeituras reduzem a capacidade construtiva dos terrenos só para beneficiar a mobilidade urbana e aumentar a qualidade de vida, cai por terra quando se analisa o alto valor pago aos cofres públicos por esses aumentos construtivos legais. Se pagar, constrói-se mais legalmente, mesmo que seja em detrimento da mobilidade urbana. A receita dos cofres públicos é mais importante que o custo final do bem para o comprador.
A miscelânea social, colocando habitações populares em zonas caras também não ajuda. Encarece a habitação social e reduz o valor da habitação da classe media ou rica existente no entorno.
A verticalização existe nas melhores e maiores metrópoles do mundo. Não é cerceando-a que vai atender o trabalhador. Os custos dos imóveis das cidades nas zonas mais distantes do centro são acrescidos dos altos custos para levar água, esgoto, energia e infraestrutura a esses pontos longínquos, dificultando o acesso da casa própria ao trabalhador.
O que falta é mais bom senso e menos sanha arrecadadora, mesmo que haja necessidade.
Sempre a conta é paga pelo comprador do imóvel. Não há milagre.