Utopia Comunista – por Milton Bigucci

Utopia Comunista
por Milton Bigucci – 30 abril de 2008

No final de Abril de 2008 estive visitando Havana em Cuba e tive oportunidade de ver e sentir in loco como vive o cubano.

Debaixo de um regime autoritário da Revolução Comunista há 50 anos (em 2009 é o cinquentenário), isto é, desde 1959 com a queda de Fulgêncio Batista, o povo nada tem, tudo é do Estado, eu disse tudo: casa, carro, gado, loja, etc.

Algumas observações:

– Um motorista de táxi ganha o equivalente US$ 15 por mês. O que recebe das corridas do táxi repassa para o Estado.

– Se o seu filho casar e tiver filhos ou não, tem que morar na casa dos seus pais ou dos seus sogros. E assim também os seus irmãos casados. Se tiver 8 filhos, por exemplo, eles iram morar com suas esposas e filhos um sobre o outro na mesma casa. Depois de 1959, quando houve a Revolução Comunista, quem tinha mais de uma casa, ficou com uma até hoje para si e seus filhos.

– Os carros são da década de 50 do século passado, enferrujados e caindo aos pedaços.

– O pobre não pode ir a algumas praias ou ficar hospedado em um hotel de luxo. A lei não permite.

– Todos ganham quase igual. É a repartição da pobreza. Um médico ganha, por exemplo, US$ 27 por mês.

– O Centro de Havana está desmoronando, sem qualquer manutenção ou pintura. Uma fábrica de tintas ficaria rica lá. Não há reposição ou produção de materiais. A foto da Capital é de destruição e sujeira. Tirei várias fotos da deterioração.

– Não tem internet.

– Máquina de lavar, aquecedor e microondas é “mosca branca”.

– Se alguém fala mal do regime,….. Discussão de oposição política nem pensar. É tabu.

– As poucas fábricas são artesanais e sem tecnologia, e a grande produção é a de charutos.

– Faz 50 anos que o povo espera melhorar. Os jovens não têm esperança. Por isso tentam fugir e ingressar nos EUA

– Parte do povo está com a “cabeça feita”, e “tudo de ruim que existe, a culpa é do embargo americano, do imperialismo”.

Se você gostar de tudo isso e outras cositas mas, pode se mudar para Cuba, pois lá existe o socialismo que há 50 anos tenta melhorar a vida das pessoas com um regime autoritário, onde o Estado manda em tudo e em todos. Totalmente ultrapassado e utópico.

Depoimentos que ouvi:

 1 – “Se como não me visto, se me visto não como, ganho o equivalente a US$ 10 por mês. Não tenho casa, vivo na casa da minha sogra. Tenho 8 irmãos casados e todos vivem na casa da minha mãe, amontoados. Por lei não podemos comprar outra casa e se pudéssemos não teríamos dinheiro para comprar. Pago pouco de água e luz, porém não ganho nada. O povo é carneiro”. Taxista de 26 anos de Havana.

2 – “Agora Raul Castro nos permite vender nosso carro, podemos entrar em hotel de luxo, e podemos ter algumas liberdades como um celular. Há filas nas lojas para comprar um Nokia. Internet ainda não há. Recebemos um aumento de US$ 5 ao ano para os aposentados. Adoramos Che Guevara, homem muito bom. Cortaram suas mãos e sua cabeça”. Senhora em frente ao Capitólio em Havana.

Raul Castro, desde fevereiro de 2008 no poder, está dando um choque de capitalismo no país, isto é, uma abertura controlada. A nosso ver, a melhora é a própria negação do regime comunista.

Todas as novas medidas são a própria negação do comunismo, com menos Estado e mais iniciativa privada, estimulando o desenvolvimento e o empreendedorismo. O Estado que é o dono de tudo e manda em tudo, onde todos ganham quase igual, do taxista ao médico, cerceia a iniciativa humana e a produtividade.

Um pouco do que vi:

 Nas estradas há placas grandes (+ 80 m²) com dizeres exortando a população ao patriotismo “Pátria ou Muerte”. “Não importa a fome, importa a Revolução”, “mais de 2/3 da energia do mundo se consome com os autos”. “Em 1º de Maio comemoramos o Dia do Trabalho e o Triunfo da Revolução”. Se o que vimos é triunfo, imagine a desgraça se tivessem perdido.

Não há classe média. Todos são pobres e iguais, sem miséria.

Os que trabalham em contato com os turistas dependem muito das propinas para sobreviver. Por US$ 5 uma jovem se prostitui.

Há um mundo para o turismo e outro para o povo. Arte, música, hotéis de luxo (ficamos no Meliá), Varadero e suas praias, nada disso é para o povo,

As prateleiras estão sempre vazias (das lojas), em casa nem sempre há uma cerveja para beber, carne é ouro, os carros e as casas pertencem ao governo. Tudo pertence ao governo, que fica com as receitas e o povo recebe migalhas.

Os jovens não têm esperança e reagem com apatia à política. Progresso nunca ouviram falar. Desconhecem o seu significado. Havana é uma cidade em decomposição. Tinta não existe. Tudo parece estar prestes a ruir. Sujeira e depredação física. Os campos não produzem e alguns poucos que produzem foram devastados agora pelos três furacões que passaram pela ilha. Há especulação com alimentos. Os atravessadores são presos. Há alguns locais como Varadero ou Hotéis de cinco estrelas em Havana, para turistas. Mas isto não é o regime. O regime é o que vimos. Nunca vi nada igual no mundo (ou parecido). O povo canta, é alegre, porém é muito pobre e sem expectativa.

Para mim foi uma experiência e tanto. Para mim que gosto de temas sociais, foi um “prato cheio”. Todos vivem sobre o comando do regime, na pobreza total, não há produtos para vender como tecido ou calçado em quantidade de mercado, os carros são da década de 50, amassados e enferrujados, quando falta uma peça desmontam outro carro ou trazem dos EUA clandestinamente por um parente. O centro de Havana é insubstituível de feio, velho e sujo. Os prédios estão caindo. Não há construções novas.

A Revolução faz 50 anos em 2009 e parece que tudo, até agora, mudou para pior.

Como pode haver alguém, depois do que vimos, defender o regime comunista? A impresa é censurada (jornais, Tv (3 canais em Tv de válvulas modelo década de 50). O povo só fica sabendo o que o governo quer.

Dê as migalhas para o povo e mantenha as rédeas a força. A pátria acima de tudo. Incentivo ao empreendedorismo? O que é isso? Esperança? Ham?

Retorno feliz por ter visto e poder comparar o autoritarismo e a democracia. Mas retorno triste por ver um povo sem esperança. E pensar que temos algumas pessoas ainda no século XXI tentando defender o impossível.

O país segue ao extremo o Cidade Limpa do meu amigo Gilberto Kassab. Não há placas nas lojas. Tudo é do Estado. Sujeira sim, nas ruas e nas lojas. Horrível.

Há na cidade quase mil predinhos com 8.000 unidades, onde moram 26 mil pessoas em estado crítico, pois não há madeira suficiente para consertar o estado de calamidade em que se encontram as habitações.

No dia 1º de Maio, Dia do Trabalho, mais de 500 mil pessoas mobilizadas nas ruas, havia cartazes como: “abaixo o império americano”, “construindo o socialismo”. Cartazes de Marx, Lênin, Engels e Guevara adornavam a Plaza de la Revolucion. Primeiro de janeiro de 1959 é histórico, dia da Revolução Cubana.

Meta do Partido que é o único partido legalizado na ilha: continuar aperfeiçoando o trabalho do Partido Comunista e a sua autoridade perante o povo. Existem duas moedas em Cuba, o CUC ou “Chivito”voltada para o turismo, valendo 25 vezes mais do que a utilizada pelos cubanos que é subsidiada pelo governo para comprar comida e o peso cubano para os nativos.

O povo aluga sua casa ao turista para melhorar o seu salário (US$15 por mês) e paga imposto alto ao governo por isso.

Os carros da década de 50, parecem mais um museu. Parece uma cidade onde o tempo parou. As habitações deterioradas onde vivem famílias numerosas. Dizem “não é mais rico o que mais tem, mas o que menos necessita”. O povo é alegre por natureza. O bairro de La Habana Vieja foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1982.

La Habana tem 3 milhões de habitantes com 75% com menos de 20 anos de idade.

O novo governo está fazendo algumas mudanças seletivas de salários para estimular a produtividade, como os médicos, por exemplo, devendo os salários se ajustar ao desempenho do trabalhador.

Na agricultura o novo governo dissolveu 104 empresas estatais para agilizar a produção de alimentos, tão carentes na ilha pela pequena produtividade, com muita terra do Estado ociosa. O Partido Comunista (PCC), que governa o Estado, diz que a agricultura é de máxima segurança nacional. A produção de charutos é forte e o destaque é o charuto Cohiba.

Os dois jornais oficiais: “O Granma” e o “Juventud Rebelde” informam as mudanças ao povo.

Conclusão:
A impressão que temos é que Cuba hoje é apenas um símbolo do socialismo mundial. Se tiverem chance, viagem e se certifiquem do que estou escrevendo.

O capitalismo não é ideal, mas mesmo assim é um incentivo ao empreendedorismo e ao progresso. A abertura de Cuba não só é necessária para o seu desenvolvimento, mas é condição sine qua nom da sua sobrevivência.

O povo tem mais resignação que esperança.

A grande questão é; como diminuir o tamanho do Estado e colocar mais empresas privadas na ilha, sem desmoronar o sistema. O atual governo, depois de 50 anos, começou a distribuir algumas terras ociosas a quem desejar. O embargo econômico americano (USA) é entrave para o regime ditatorial cubano.

Hoje a América Latina é uma grande democracia e Cuba ficou paralisada 50 anos no poder da força estatal, embora haja alguns poucos mandatários da América que gostam do regime cubano. Parece incrível, mas é verdade. Se não abrir a ilha, o caminho é o holocausto. Cuba é uma das ultimas “ditaduras” de Partido comunista a sobreviver na Terra.

Democracia sempre, autoritarismo jamais.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *