O relacionamento com os jovens

*Milton Bigucci

 

Parece que a cada dia que passa o nosso relacionamento com os jovens fica mais desafiador. Eu, que tenho quatro filhos e sou avô por doze vezes, tenho procurado aprender com eles, adolescentes e crianças. Sigo o exemplo da minha sogra de 93 anos, Isabel Maltos Pioli, que, com grande sabedoria, se atualiza na tecnologia, lê muito e fala de qualquer assunto, quebrando barreiras com os jovens. Ela foi uma das entrevistadas dessa nossa revista, junto com o ator Ary Fontoura, de 84 anos, outro sábio na relação com os jovens.

Mas na sociedade de forma geral parece que existe um abismo entre os velhos e os jovens na cultura, na educação, nas atitudes, no vestuário e nos costumes. Já não é só “velho careta”. Ou os velhos se atualizam para entendê-los ou a tarefa de educá-los ficará mais difícil. Ou impossível. Mesmo para os pais.

O jovem é drogado e alienado ou é sadio, mas geralmente nos vê como fora de moda. Usa piercing, faz tatuagem, não gosta de conversar com velho. Só quer saber do seu grupo. Ou será que o defeito está conosco que não nos atualizamos ou não nos acercamos deles para saber das suas fraquezas, para ajudá-los com a nossa experiência?

O trabalho externo dos pais dificulta a convivência entre as gerações. Os avós também ficam distantes. Pais, filhos e avós deveriam ser mais “família”, mas a vida moderna os distancia. No passado, a mãe não trabalhava fora e era mais fácil o diálogo. Hoje, há pouco tempo para conversa. Ninguém pode perder tempo. É lamentável e só faz aumentar o abismo.

Eu tenho uma ideia que sigo há anos. Dê estudo e trabalho desde cedo ao jovem e ele terá uma autoestima forte e fatalmente, salvo alguma exceção, ele seguirá valores úteis. As ações sociais que os pais fazem voluntariamente são também uma boa medida para fazer os jovens participarem, ajudando terceiros carentes. Devemos criar neles o amor ao próximo.

Temos que ouvir mais os jovens. Fazê-los falar conosco. Embora eles não gostem de falar conosco, eles são carentes. Temos de ganhar a sua confiança.

Não sou adepto a dar de “mão beijada”. Gosto de fazer com que o jovem conquiste as suas metas, ajudando-o a alcançá-las sem que ele perceba e mostrando-lhe que não estamos dando. Ele deve se sentir como conquistador. Dar tudo pronto é chamar o jovem de irresponsável e incapaz. Devemos induzi-lo a um bom porto, mas ele deve conquistá-lo. Não devemos ferir o seu orgulho e só assim conseguiremos formar homens para o futuro.

Vamos encurtar cada vez mais as distâncias entre os jovens e velhos, ficando mais próximos a eles e parando de apenas falar mal dos seus atos sem esquecer que nós também somos culpados pela distância.

Precisamos refletir e agir, cada um a seu modo, cada um dentro da sua família ou da sua sociedade, o que podemos fazer para melhorar essa formação juvenil. Criticá-los apenas, é ajudar o barco a afundar para depois dizermos ao mundo: “ah, aquele jovem não tinha jeito”.

Sempre é um bom momento para mudarmos. Todos. A convivência entre os jovens e velhos deve ser pautada pela inspiração divina que sentimos, dando lugar em nossos corações a um sentimento maior de busca pela justiça, verdade, cordialidade e respeito entre os que amamos.

 

*MILTON BIGUCCI é presidente da construtora MBigucci, presidente do Conselho Deliberativo da Associação dos Construtores do Grande ABC, membro do Conselho Consultivo Nato do Secovi-SP e do Conselho Industrial do CIESP, conselheiro vitalício da Associação Comercial de São Paulo e conselheiro nato do Clube Atlético Ypiranga (CAY). Autor dos livros “Caminhos para o Desenvolvimento”, “Somos Todos Responsáveis – Crônicas de um Brasil Carente”, “Construindo uma Sociedade mais Justa”, “Em Busca da Justiça Social”, “50 anos na Construção” e “7 Décadas de Futebol”, e membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, cadeira nº 5, cujo patrono é Lima Barreto.

 

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